Exposição fotográfica L I M B O - Belo Horizonte (Minas Gerais) e Salvador (Bahia) - 2018

No período de 26 a 28 de agosto de 2018, na Galeria de Arte do Sion em Belo Horizonte (MG), ocorreu a exposição do trabalho de fotografia autoral L I M B O. Este trabalho também foi exposto no período de 6 a 16 de setembro de 2018 no Bardos Bardos Casa da Trinca em Salvador (BA).

Seguindo o fio condutor do meu primeiro trabalho autoral utilizando a linguagem do auto-retrato "Inércia", neste trabalho, a ênfase foi no desenvolvimento de uma crítica visual à objetificação da existência humana no meio acadêmico brasileiro.

As fotos foram feitas utilizando um tripé ou outro objeto para apoio da câmera com uso do temporizador para captura das imagens. A luz ambiente, a escolha dos enquadramentos utilizando os objetos e pessoas da cena do modo como se apresentavam no momento da captura da imagem (sem manipulação ou direção), a escolha do preto e branco como linguagem visual, o uso da lente 28 mm (que teve como objetivo utilizar de uma leve distorção natural à esta lente para sugerir ao espectador da imagem uma espécie de realidade 'paralela', à margem do 'real') -, foram escolhas que fiz a fim de construir a sensação estética na imagem do "limbo" acadêmico). Limbo, do latim limbus, significa borda, margem. Neste trabalho a referência é ao lugar de invisibilidade e silêncio, portanto, ao lugar marginal em que as pessoas - alunos, professores e outros servidores públicos presentes nas universidades públicas brasileiras -, são jogadas a partir do momento em que são submetidas à um contexto institucional decadente, carente de investimentos e que visa apenas a "produtividade" do ponto de vista quantitativo, desumanizando as relações de trabalho, o processo educacional e de produção de conhecimento científico na universidade. Neste ambiente agressivo, tonam-se comum os casos de depressão, suicídios, assédios, trabalhos de pesquisa sem profundidade e interesse e outras manifestações de desespero em relação à este movimento de objetificação da existência humana.

A escolha da máscara de gás como objeto presente em todas as imagens buscou possibilitar uma abordagem semiótica que enfatizasse a toxidade e o uso negativo do poder no ambiente institucionalizado das universidades públicas brasileiras, além de remeter à despersonalização/objetificação da pessoa no contexto institucional universitário. Os gestos da personagem mascarada das imagens também foram feitos no sentido de remeter às relações de poder tóxicas na academia. Fiz as fotos nas faculdades e locações dentro delas por onde passei, defendi projetos de pesquisa e trabalhos acadêmicos durante minha passagem por este contexto institucional como aluna e onde pude testemunhar e vivenciar diversas situações que envolveram assédio moral e outros tipos de abusos de poder por parte de professores ou detentores de cargos públicos dentro da universidade.

Por outro lado, o trabalho também procurou mencionar o atual sucateamento e a má gestão das universidades públicas brasileiras que acaba causando tensões significativas visíveis na desvalorização do professor universitário, da pesquisa e do desenvolvimento de ciência e tecnologia. Daí as imagens em que "a personagem" mascarada da foto está no lugar do professor (sendo olhada a partir do ponto de vista do aluno) e, também, no lugar do aluno (sendo olhada do ponto de vista do professor). Um contexto em que, de professor a aluno - de uma ponta a outra das relações de poder institucionalizadas -, em algum momento, ainda que tentem denunciar, pedir ajuda, gritar por socorro -, as pessoas são jogadas invisibilizadas e silenciadas no "limbo" onde ficam "vagando" à margem da "realidade" de visibilidade, voz, representatividade e respeito - em que só participam aqueles detentores de poder.

Por fim, optei por expor o trabalho em dois contextos: uma galeria de arte em Belo Horizonte (MG) e um ambiente/bar alternativo underground de Salvador (BA) justamente para contrastar as possibilidades de manifestação artística: no ambiente institucionalizado da galeria e em um contexto considerado como difusor de cultura 'marginal' - nas duas cidades por onde passei por universidades públicas como aluna.

Para mais detalhes ou para solicitar exposição das imagens da série L I M B O: entrar em contato via direct com a fotógrafa pelo Instagram: @patricialuce











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