Tese completa: Quando Toca o Berimbau: técnica e pessoa no Forte da Capoeira em Salvador (autora: Patrícia Campos Luce)


Link para acesso ao texto completo constando uma "Carta aos leitores" da tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia como requisito parcial à obtenção do título de doutora em Antropologia da Universidade Federal da Bahia:

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Quando toca o berimbau: técnica e pessoa no Forte da Capoeira em Salvador

Resumo do Trabalho:

Discutindo a relação entre o humano e técnico, este trabalho aborda a capoeira enquanto prática social e modo de elaboração do capoeirista, abordando especificamente as práticas da capoeira conhecidas como capoeira angola e capoeira regional. A etnografia refere-se à cinco grupos de capoeira angola e um grupo de capoeira regional – todos eles sediados no Forte da Capoeira -, monumento tombado pelo Estado localizado no Bairro do Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador (Bahia). No Forte da Capoeira, os capoeiristas angoleiros desenvolvem o jogo de capoeira com a bateria envolvendo três tipos de berimbau e mais outros quatro tipos de instrumentos musicais enquanto os capoeiristas regionais realizam o jogo de capoeira com um berimbau e mais um tipo de instrumento musical. Os angoleiros e os regionais diferem, principalmente, na sua maneira de elaborar e interpretar o som, sobretudo do berimbau, atuando no corpo em movimento e no ambiente. Envolvendo relações diferentes entre capoeiristas, artefatos e ambiente, as capoeiras angola e regional estão associadas às perspectivas específicas de subjetivação do capoeirista que incluem habilidades referentes à relação com o som, com os corpos em movimento e demais elementos presentes no contexto, além de modos de socialidade peculiares ligados às práticas consideradas como sendo tradicionais de cada grupo de capoeira em relação àquelas consideradas tradicionais na prática da capoeira em contexto mais amplo. Enfatizando a prática enquanto fundamento do processo de aprendizagem das habilidades do capoeirista, conforme a antropologia ecológica de Ingold e considerando as relações entre o técnico e o humano em diálogo com as abordagens de Latour, Leroi-Gourhan e Mauss, este trabalho concluiu que o envolvimento nas atividades técnicas não implica apenas o domínio de um saber-fazer ou um meio para se chegar a um fim, mas um modo ativo enfático de elaboração de pessoas com configurações peculiares que também constitui o ambiente. A pesquisa discute, ainda, o processo de patrimonialização da capoeira e do Forte da Capoeira a partir do envolvimento das trajetórias jurídicas, políticas e administrativas referentes à qualificação da capoeira como patrimônio imaterial e do tombamento do Forte da Capoeira como patrimônio material pelo Estado. Estas trajetórias influenciam o cotidiano dos grupos de capoeira do Forte e, também, dos capoeiristas na atualidade engendrando parte de um processo sociotécnico e simbólico transformador do ambiente, das práticas da capoeira e das compreensões que se têm deles. No intuito de destacar, no processo de elaboração da etnografia, abrangendo, portanto, não apenas seu conteúdo, mas também sua forma, o fato que o envolvimento em atividades técnicas constitui configurações subjetivas e físicas peculiares da pessoa, este estudo realizou um diálogo com o campo da antropologia visual, apresentando algumas fotografias, mas principalmente um vídeo no formato de uma etnografia visual experimental que foi processo e resultado da abordagem utilizada pela antropóloga no desenvolvimento de sua aprendizagem, em 'tempo real', de utilização da câmera fotográfica e filmadora como instrumento de pesquisa com os grupos de capoeira do Forte. Esta abordagem permitiu examinar e analisar, no formato vídeo, o próprio processo de aprendizagem de uma atividade técnica da antropóloga referente à realização e utilização de imagens no campo da antropologia, apresentando na forma e no conteúdo do próprio vídeo, a construção da percepção audiovisual da antropóloga em sua relação com a câmera enquanto artefato no contexto da pesquisa de campo, na medida em que também aborda a dimensão técnica na prática da capoeira no cotidiano do Forte referente à elaboração do som, dos corpos em movimento e do ambiente.


Palavras-chave: Antropologia. Capoeira. Técnica. Patrimônio.

Link do Youtube para acesso ao vídeo que faz parte da tese:
O Forte da Capoeira




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